terça-feira, 9 de abril de 2013

Dia de luto para os jornalistas ou dias de luta?



Uma matéria publicada no dia 8 de abril pelo site Brasil 247 me chamou atenção por ter muito a ver com o meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em Jornalismo na Faculdade da Cidade, onde estou investigando o tema “Democracia e complexidade. O papel da blogosfera na democratização da informação e da grande mídia”.

Quando o site aborda a crise na grande imprensa, expressa na redução de profissionais, cadernos e editoriais, podemos avaliar que decorre, sim, da não reinvenção do setor impresso tradicional. Mas, ousaria a dizer que há outro elemento merecedor da nossa atenção. Decorre também desse (não tão) novo fenômeno chamado internet e suas ferramentas de comunicação, como as redes sociais, especialmente os blogs.

Essas ferramentas estão propiciando novos espaços de discussões e reflexões coletivas, e mais, de participação politica e social das pessoas. Nesses espaços, a interatividade e o papel de também sujeitos na produção, análise e construção da informação - com a possibilidade do debate do contraditório – pode estar migrando a audiência da imprensa tradicional para a chamada mídia alternativa. 

NOVO FENÔMENO

Podemos constatar esse novo fenômeno com a profusão intensa de novos blogs e sites que procuram tratar os mesmo temas da grande imprensa, só que um diferencial importante: a garantia da liberdade de expressão e de opinião, tirando o leitor de uma condição de receptor passivo e apenas consumidor das informações veiculadas nos grandes meios de comunicação.

Assim, mesmo os grandes veículos recebendo ainda maior parte das verbas publicitárias, públicas e privadas, é claro que está também migrando parte do financiamento desses meios para a mídia alternativa. Seguramente porque amplia exponencialmente sua audiência, garantindo maior visibilidade de marcas, produtos e empresas que anunciam.

PODER E DEMOCRACIA

A questão da Lei dos Meios não deve ser abordada apenas no contexto das dificuldades da grande mídia tradicional. A regulamentação dos meios de comunicação tem relação direta nas sociedades atuais com a própria democracia que todos desejam, com pluralidade de opiniões para refletir a diversidade de pensamento dessa sociedade.

Até pelo poder que a mídia possui hoje. Ao meu ver, deixou de ser o 4º poder para ser o primeiro, influenciando decisões dos demais poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. É só lembramos alguns episódios em que o que foi pautado e massificado pela imprensa foi determinante para tomadas de decisões no país. O mais recente foi o episódio do mensalão, que foi focado no PT, desconsiderando que esse problema começou em Minas Gerais com o governo dirigido pelo PSDB.

Como falar em democracia no Brasil se esse poder poderoso é controlado por apenas nove famílias, responsáveis por 85% da informação que circula nos meios de comunicação de massa: rádio, TV e jornal? Como falar em democracia quando canais de rádio e TV é uma concessão pública, mas ao se pensar em um sistema público de comunicação (como determina a Constituição) ou regular as atividades da mídia em geral, gera-se uma crise?

NOVO MODELO

De fato, é preciso um novo modelo para a produção e a distribuição da informação. Em se tratando do meio impresso, o nosso velho e bom jornal se depara com uma concorrência forte da mídia digital. Todas as atividades tradicionais tiveram que se adaptar a esse fenômeno. Disseram que o livro de papel desapareceria. Não desapareceu, mas percebeu-se a necessidade de se fazer os e-books (livros eletrônicos), ou colocar clássicos também em formato digital para atrair leitores. 

Será que não seria interessante a face digital de um grande jornal (alguns já estão fazendo isso) noticiar o cotidiano em notas menores e indicar grandes reportagens sobre os temas mais densos nos seus impressos, para não perder leitores e receitas? O fato é que a era digital com a internet e suas redes sociais, especialmente os blogs, colocaram em xeque o poder historicamente hegemônico das grandes mídias tradicionais. 


NOVO TEMPO

O TCC que desenvolvo me colocou à frente como tema central o conflito entre a democracia e a complexidade gerada pela blogosfera. Por trás da crise da mídia tradicional há uma clara luta de ideias na sociedade. Aliás, toda revolução tecnológica que a humanidade experimentou, gerou questionamentos sobre os novos fenômenos e a crise que sempre atinge os velhos (que já foram novos um dia). 

Um grande poeta da modernidade já disse que "via o futuro repetir o passado". "Que via um museu de grandes novidades". É, "o tempo não para". Cabe a nós, futuros e atuais jornalistas, estarmos antenados com o novo tempo para atuar sobre ele numa perspectiva de construção de uma sociedade mais democrática, desenvolvida e justa socialmente e economicamente. Não se trata de um dia de luto, mas da gestação de dias de lutas para os profissionais da comunicação.


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