Digam o que quiserem,
mas as datas são importantes para reflexões e até mudanças de atitude. São boas
as manifestações de carinho às mulheres no Dia Internacional da Mulher, mas
mudança e transformação acontecem, especialmente, a partir do movimento e da
sinergia produzidos por conflitos de ideias. É inquietante ver que, há algum
tempo, as comemorações dessa data estão perdendo força e se limitando a alguns debates
fechados e caminhadas cada vez com menos mulheres.
Vi isso
na Marcha das Mulheres em Salvador, no dia 17. Observei uma certa mesmice. Uma
obrigação que se deve cumprir para honrar as 130 operárias têxteis da fábrica Cotton, em Nova
Iorque, que fizeram uma greve nesse dia, em 1857. Elas ocuparam a empresa para reivindicar
redução da jornada de trabalho, equiparação salarial com os homens e tratamento
digno no local de trabalho. Foram trancadas dentro da fábrica, que foi
incendiada.
Questão
de foco
No mundo atual, as
pessoas são bombardeadas por milhões de informações a todo momento. Fica
difícil captar o que é essencial em meio à dispersão de ideias, problemas e
perspectivas. As comemorações do Dia Internacional da Mulher deixaram de ser
exclusivamente no dia 8 de Março para terem várias atividades durante o mês, no
que se chama de Março Mulher. Aqui, ao meu ver, começa o problema atual para
que a luta feminina dê resultados mais concretos para as mulheres. Falta foco,
que garante concentração de energia, atenção e esforço para realizar algo
importante em um determinado momento. Quando se amplia, há dispersão de
energia, esforço e atenção.
Aquilo que é uma
vantagem da alma feminina – a capacidade de lidar com várias situações ao mesmo
tempo – choca-se com o que a realidade pede: foco. Poderá contribuir com as
lutas femininas se as mulheres definirem esse foco e colocarem essa vantagem ao
seu favor.
Mulheres procuram se achar, mas não se encontram porque a
luta feminista está diluída nas lutas gerais da sociedade. Bandeiras
específicas e importantes se condicionam às bandeiras maiores. Não há nada que consiga catalisar o sentimento geral das mulheres.
Também entendo que dia
da mulher é todo dia, mas marcar a data é essencial para canalizar as atenções
da sociedade sobre o que ainda precisa mudar para garantir a tão sonhada,
buscada e batalhada emancipação feminina, política, econômica, emocional e cultural. Esse ano, em Salvador, por
cair num sábado e logo após o Carnaval, resolveu-se colocar o grande ato, a
Marcha das Mulheres, para o dia 17. Ganhou-se mais tempo para preparar e
mobilizar as mulheres. Mas, não aconteceu. Se houvesse foco e um forte chamado,
pelo qual mulheres que não são militantes participassem , poderia ter se
construído o ato, antes ou depois da folia, que seria grandioso.
Muitas
bandeiras
Procurei nos principais
sites que abordam questões e lutas femininas para ver quais as bandeiras para
esse ano. Na organização mais avançada, a UBM (União Brasileira de Mulheres),
constatei nove palavras de ordem: 1) mais poder político para as mulheres; 2) contra
toda forma de escravidão e pela autodeterminação dos povos em todo o mundo; 3) não
às guerras; 4) por uma América Latina altiva, unida, diversa e soberana; 5) um
Brasil democrático, grande potência econômica, energética, alimentar,
científica; 6) igualdade de direitos e na remuneração do trabalho; 7) reforma
política; 8) combate à violência; 9) respeito ao meio ambiente; 10) defesa do
SUS.
Tudo com o objetivo de
superar a opressão patriarcal e a exploração feminina. Ufa!
Ficaria mais fácil se não
limitar o tratamento, com mais ênfase, dos assuntos de interesse da mulher
apenas em março. Focar em três eixos pode significar colocar mais energia nessa
luta.
Ao meu ver, o primeiro seria MAIS
PODER. Afinal, trata-se de 51,2% da população brasileira e 54,2% do
eleitorado (eleições de 2012), mas apenas 10% de parlamentares no Congresso
Nacional, mesmo com uma mulher na Presidência. Campanhas e ações junto à
sociedade, partidos, organizações sociais e Judiciário seriam potencializadas.
O segundo é o COMBATE À VIOLÊNCIA. O
centro está no aprimoramento da importante Lei Maria da Penha. Não dá para filosofar.
As mulheres precisam de políticas públicas: mais centros de referência, casas de
abrigo, delegacias e varas especializadas no tema. É ir pra cima de governos e
prefeituras para exigir e garantir isso.
Por fim, a IGUALDADE. Começa pela redução
da jornada de trabalho, sem redução de salário. Não haverá emancipação da
mulher com tripla jornada (trabalho, estudo, família). Não adianta falar em
redução geral nesse caso. Se acontecer, o problema da mulher continuará e apenas
diminuirá de tempo. É diferente do homem. Depois, lutar pela aprovação do Projeto de Lei nº 6.653/09, da deputada federal Alice
Portugal. Ele equilibra as
responsabilidades familiares e profissionais, ampliando a rede de
assistência a crianças e idosos para garantir o desenvolvimento da mulher na
carreira. Mexe com as empresas ao criar um selo de reconhecimento para as que
adotarem planos de igualdade salarial e de oportunidades de crescimento na
carreira para mulheres e homens, entre outras coisas. E creches públicas para que possam deixar seus filhos bem e ir
trabalhar com tranquilidade. Também não dá para filosofar. O governo Dilma
destinou 138 creches para Salvador, mas o ex-prefeito só fez
11 e o atual, nada.
Cláudio Mota - Jornalista, publicitário e responsável pelo Axé com Dendê
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