Nesta quinta-feira, 06 de dezembro de 2012, o Brasil e o mundo ficaram menos geniais com a perda de
Oscar Niemeyer, o arquiteto de curvas e traços delicados, ousado e inquieto. A
perda é tão grande quanto esse grande brasileiro, que colocou o nome do seu
país no patamar mais elevado da arquitetura mundial.
Niemeyer é homem secular; nasceu em 1907 e compôs uma trajetória parecida com os traços que deram forma à verdadeiras obras de arte.
Era gênio
porque conseguiu transpor a complexidade arquitetônica em traços simples, tornando
o óbvio perceptível e entendível paras pessoas simples da população.
Era gênio porque as
curvas que saiam dos seus traços eram uma contestação ao retilíneo, como com
quem previa que a vida não se processa em linha reta, e que o mundo se
transforma nas curvas da história, especialmente pelos que mais sofrem.
Sua simplicidade lhe
dava sofisticação de um grande ser humano, para quem a “solidariedade justificava
o curto passeio da vida”.
Um olhar mais profundo em
suas obras deduz que as curvas delicadas, precisas e artísticas eram uma
reverência que todo masculino deve ao feminino. Para ele, a mulher “é o
complemento físico e espiritual do homem” e “sem ela, sem sua sedução e boa
companhia, desaparecem nele os sonhos e fantasias que marcam e justificam suas
vidas.”
Niemeyer era gênio
porque via a vida além dos traços que se materializavam em concretos. Ao
projetar Brasília, desejava uma cidade de “homens felizes, que sintam a vida em
toda sua plenitude e que compreendam o valor das coisas simples e puras.”
Acima de tudo, Niemeyer foi
arquiteto da solidariedade e de um mundo mais humano e melhor para as pessoas. Assim, comprou
um apartamento para o amigo comunista Luis Carlos Prestes e projetou a casa do
seu motorista numa favela do Rio de Janeiro.
Abraçou as ideias de
Karl Marx e foi comunista até o fim de sua rica vida, sempre considerando o mundo injusto e inaceitável. Expressava isso em sua profissão. Para ele, não “não
basta fazer uma cidade moderna; é preciso mudar a sociedade”
Com o Memorial da
América Latina, mostrou a trajetória de um povo marcado pela luta por uma
vida melhor. Para Niemeyer, “mais importante do que a Arquitetura é estar ligado ao
mundo. É ter solidariedade com os mais fracos, revoltar-se contra a injustiça,
indignar-se contra a miséria. O resto é o inesperado; é ser levado pela vida.”
Niemeyer deixa um legado
para as futuras gerações: curvas geniais e traços de cidadania. Na terra ficam
obras para a eternidade. Na eternidade, quem sabe possamos ver novos formatos de
estrelas.
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