domingo, 5 de fevereiro de 2012

E agora, como conquistá-la?

Depois que ela se apresenta, o desafio é conquistá-la. Mas é preciso atentar para algumas questões, especialmente quando se trata da alma feminina. Entender esse enigma, com seus mistérios e sua complexidade, exige além de ver, perceber.

Talvez antes de oferecer flores, perceber qual é a sua favorita. Ou mais específico: apenas uma flor roubada pode fazer mais efeito. Perceber que uma canção cantada bem de perto (mesmo sem afinação) emociona mais que uma surpresa musical na janela.

Perceber que pra ela se sentir linda com um vestido e uma maquiagem simples, teve que ficar um tempo experimentando muitas roupas e fazendo aquela produção no rosto. Perceber que, dependendo do tom de voz, sim pode ser não. Mas, talvez, com certeza, é sim.

Às vezes, ela não quer ser entendida, mas aceita, com todas as suas imperfeições, dilemas e encantos. Até porque, muitas vezes, ela também não se entende. Perceber que ela não trabalha com raciocínio lógico e segue os desejos, torna a tarefa mais instigante.

E agora?

Bem. A nova classe média brasileira já se apresentou e revelou mudanças importantes no seu perfil econômico-sócio-cultural. O desafio é como chegar até ela e falar o que tocará seu coração. Historicamente, quando há essas transformações, muda-se a maneira de ver o mundo.

Se ela é maioria da população (53,8%) e tem renda entre R$ 1 mil e R$ 4 mil, indica maior independência, visão crítica mais apurada e que é mais exigente (afinal, chegou até aqui com muito esforço). Mais do que nunca, ela é formadora de opinião.

Se não tem hábito de leitura, é pragmática, trata com cinismo as eleições e duvida de valores universais (honestidade, amor, religião, política), indica que devemos usar maior argumentação e, acima de tudo, ter outra atitude diante da vida para convencê-la.

Se ela surge, ao mesmo tempo, da antiga classe média e do operariado, está em transição e vai conviver com alguns dilemas: tem TV LCD e itens da linha branca, mas ainda mora de aluguel e em locais sem infraestrutura adequada. Isso sugere novos apelos, novas bandeiras, de luta e de sedução.

Se ela casa e tem filhos mais tarde é porque quer estabilidade profissional e financeira. Economia  aquecida e falta de mão de obra especializada; acesso à universidade maior nos dias de hoje e grande número de faculdades. Ganha mais força o apelo por instituições profissionalizantes com duração menor. Mas, dentro dessa complexidade, não se pode esquecer a etapa anterior: o ensino médio, que teve queda de matrículas.

Se ela deixou a TV para o entretenimento e usa mais a internet, indica que é preciso argumentar bem e de forma objetiva. É falar mais com menos palavras, em curto espaço de tempo e de linhas, como manda a publicidade, combinando razão e emoção no discurso. Indica também que é essencial usar mais e melhor as redes sociais.

Ou seja, conquistar e construir uma relação consistente e duradoura. Algo parecido com exigir fidelidade, só que na vida online? É meu caro, a consumidora e cidadã, que é mãe com mais de 30 anos de idade e trabalha, dá mais valor a tempo, feedbacks (troca) e relacionamento. Ela pesquisa, expõe, argumenta e quer soluções rápidas e efetivas aos seus desejos e anseios.

Se ela é urbana (89%), mostra que está vivenciando os problemas estruturais das grandes cidades, como violência, mobilidade urbana precária e serviços básicos deficientes. Indica apontar soluções factíveis que melhorem sua vida.

Se ela não é maioria no Nordeste, está mais em cidades com menos de 100 mil habitantes (45%) do que em regiões metropolitanas (32%) e em cidades de médio porte (23%), indica que quem ainda não faz parte desse novo mundo quer ouvir como chegar lá e quais políticas públicas podem se tornar a ponte até ele.

Se no seu mundo, seis em cada dez pessoas estão empregadas, a maioria (42%) tem carteira assinada, 19% trabalham por conta própria, e três quartos dela moram em casa própria, indica que ela passou a ter sonhos diferentes do que há 10 anos passados.

Longe de ter essas indicações como o Fio de Ariadne, que na mitologia grega ajudou Teseu, com um novelo de linha, a entrar e sair do labirinto após vencer o Minotauro. Longe de tê-las como solução do enigma da Esfinge para não ser devorado.

São reflexões para tentar encontrar a melhor maneira de seduzir essa nova e enigmática figura social.