quinta-feira, 20 de junho de 2013

Os protestos, a juventude e a militância digital

  
Andando entre o Campo Grande e a Avenida Sete, nesta quinta-feira (20), tentei entender o que unificava jovens e muitos adultos que aderiram aos atos organizados a partir do Movimento Passe Livre. Afinal, eram diversas palavras de ordem e bandeiras de luta nos cartazes.

Uma coisa é certa e relevante. O movimento chamou atenção para novas demandas da população que ainda não foram atendidas. A redução da tarifa foi apenas o símbolo detonador desse processo, que envolve os problemas sociais ainda não resolvidos - mesmo com os avanços conseguidos na última década -, nos serviços públicos (saúde, educação, segurança, mobilidade urbana), além da corrupção e do desperdício de dinheiro público.

Precisamos compreender essa nova juventude brasileira da Era Digital, que influencia comportamentos e atitudes na sociedade. Muitas coisas foram reveladas pelo projeto Sonho Brasileiro, pesquisa feita em 2010 e divulgada em 2011 pela Box1824, empresa de pesquisa comportamental.

Pelo estudo, os jovens atuais não pensam em bater de frente para transformar as coisas e acreditam que as mudanças acontecerão por articulações colaborativas, pacíficas e simbólicas do que em conflitos, choques ou violência (ouvimos sempre eles se colocarem contra os grupos que estavam no movimento produzindo atos de vandalismo).  

MILITÂNCIA DIGITAL

É fato que a internet quebrou barreiras e possuiu grande capacidade de gerar movimentos espontâneos, a partir de pequenas ações de grande amplitude. A rapidez da dinâmica online produz o sentimento do “é pra já”, com eles optando por aproveitar as oportunidades imediatas do que esperar o futuro chegar. Com as redes, os indivíduos ganharam poder de fala e saíam da censura dos grandes meios de comunicação (TV, rádio, jornal).

Hoje, muitos pesquisadores da comunicação já trabalham a ideia de que há uma militância digital na rede mundial de computadores. Blogs e facebook especialmente têm sido os novos espaços para o exercício da cidadania e debates sobre os temas que mais afligem a sociedade.

A pesquisa também revelou que os jovens perderam confiança na representação política, pois podem suprir suas demandas de outras formas (ouvimos também que, ao aparecer bandeiras de partidos e outras organizações sociais, eles afirmavam que o movimento era apartidário).

NOVOS DESAFIOS

Outros dados da pesquisa do Sonho Brasileiro também podem ajudar a entender melhor a cabeça dessa juventude brasileira: 92% acreditam que soma de pequenas ações (suas) pode mudar a sociedade; 77% sonham cursar universidade; 79% acreditam que família é a base; 90% acreditam que transformações na sociedade acontecem aos poucos; 74% sentem obrigação de fazer algo pelo coletivo, diariamente; 76% acham que seu bem-estar depende do bem-estar da sociedade e 90% querem profissão que ajude à sociedade.

O desafio para governos que surgiram a partir das lutas sociais é entender que, mesmo com importantes avanços conquistados, ainda não estamos no paraíso. É preciso romper com grilhões que ainda emperram mudanças maiores, tão esperadas por esses jovens que acreditaram em outro projeto de país.

O desafio para as organizações que sempre mobilizaram a juventude e outros segmentos sociais é saber a melhor maneira de militar no mundo da web para interagir com esse novo perfil de militante social e político. 

É importante contribuir para que movimentos dessa magnitude possam evoluir para compreender que a luta para fazer o poder público atender demandas atuais deve ir na direção de mudanças estruturais para a construção de uma sociedade diferente da que vivemos, causadora principal desses problemas. Até porque, existe militância de esquerda e militância de direita.

Cláudio Mota – publicitário, estudante de jornalismo e responsável pelo Axé com Dendê