Dois momentos interessantes na faculdade. Primeiro, o professor Marcílio nos brindou com um incrível texto seu, onde citou o enigma da esfinge. Depois, eu e colegas da faculdade conversamos descontraidamente sobre os dilemas vividos por homens e mulheres na relação a dois. Isso é que é discutir relação coletivamente.
Ai, me veio a continuidade daquela história sobre o machismo que também cansa. A gente pode perceber que a mesma sociedade que exige determinados comportamentos masculinos também moldou valores femininos.
Há algum tempo, o pai da psicanálise,Freud, fez a mais famosa indagação sobre a mulher. Afirmou que, depois de ter estudado a mente humana, não conseguia responder: "Afinal o que querem as mulheres?”
Geralmente, homens e mulheres refletem, em suas atitudes, os valores da sociedade onde vivem. A mulherada foi à luta, ingressou no mercado de trabalho, passou a ter maior escolaridade, conquistou espaços importantes na sociedade.
Fizeram isso incorporando valores ditos “masculinos”. De femininas, doces, frágeis, delicadas e sensíveis, tiveram que mostrar altivez, falar firme e ter uma postura de forte. Tudo para se afirmar e não deixar dúvidas de sua capacidade e competência nos espaços ditos “masculinos”.
Mundo gira, gente muda
E agora? Homens e mulheres criam expectativas em relação às atitudes e comportamentos do sexo oposto. Segundo o psiquiatra Luiz Cuschnir, bem lá atrás, o forte, ágil e viril era o “cara”. Tinha que alimentar e defender sua tribo. É, o cara das cavernas era sedutor, sim. Tempos depois (Idade Média) foi a vez do cavalheiro, honrado e valente (o tal príncipe encantado).
Com as descobertas científicas, o inteligente, curioso e inconformado mexia com a libido e a alma feminina. Mais recentemente, perfis como o metrossexual (o cara preocupado com a aparência), o sensível e o compreensivo provocaram a imaginação feminina.
Mesmo com tantas mudanças, a cultura machista ainda se reforça em muitos aspectos. Inclusive por algumas atitudes femininas. Quer ver? A mulher forte, decidida e firme também se fragiliza e não abre mão de se sentir protegida por alguém forte. O cara aparentemente frágil se ferrou. Dois corpos (fragilizados) não ocupam o mesmo lugar na terra ao mesmo tempo.
Acontece que o forte aqui traz consigo todo o colesterol ruim do machismo, que oprime, desqualifica e desvaloriza a mulher. E também cansa.
A esfinge que nos perdoe, mas esse enigma é nosso, de homens e mulheres (licença, Marcílio). Afinal, queremos alguém parecido com a gente, correndo o risco de ter uma relação tipo cortadinho de chuchu? Queremos alguém diferente, correndo o risco de nos enriquecer e nos completar, mas de viver uma relação conflituosa?
Cuidado! Podemos ser devorados, devoradas.