segunda-feira, 15 de abril de 2013

O efeito Daniela e o poder das mídias



A decisão corajosa de Daniela Mercury em assumir publicamente sua relação homoafetiva, primeiro na rede social Instagram e depois na grande mídia, gerou grande repercussão no Brasil e no mundo. Fato divulgado, começaram as divagações sobre a posição da cantora, gerando opiniões de apoio e crítica.

O bom é que episódios, assim, produzem reflexões importantes. Embora ainda muito lentamente, começamos a debater temas sensíveis e de grande polêmica. A repercussão mostra o poder de uma artista renomada em pautar ou intensificar assuntos nas mídias e na sociedade.

Quando surgiram ideias como “se tratava de uma ação de marketing” ou “estimulava a apologia ao homossexualismo”, eis que surge a decisão e a postura singular de Daniela, que construiu uma trajetória respeitada na música e como personalidade que sempre emitiu opiniões sobre algo.

Quem acompanhou suas entrevistas percebeu muita serenidade, firmeza e dignidade para declarar o seu amor por uma mulher e solicitar “ser aceita, ter liberdade, ser respeitada, não suportar ficar escondida e tratar isso como uma coisa natural”.

Atitude própria de uma grande artista. De uma mulher preocupada com a sua sociedade - claramente sob disputa de ideias avançadas e conservadoras - ao afirmar que o contexto político da inadequação do pastor Feliciano na Presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, lhe deu força. Mesmo entendendo que, “quanto mais se falar das relações homossexuais”, mas elas vão se tornar naturais, como foi com o fim da vergonha que as mulheres tinham de serem desquitadas, há muito tempo.

A postura de Daniela também bateu de frente com a hipocrisia reinante em nossa sociedade. Antes de tornar público o assunto, foi transparente e sincera com quem mais precisava ser: sua família e seu ex-marido. E teve a compreensão e o apoio deles.

O poder da mídia

O fato gerado pela declaração de Daniela também confirmou o poder da própria mídia em suscitar discussões que efetivamente materializam elementos da tão almejada democracia. Mesmo que a grande imprensa (Globo, Veja, Folha, Band, Record, entre outros) defina o  que a opinião pública lerá, ouvirá e verá (a agenda setting), as mídias alternativas (blogs, sites e redes sociais), seguramente, entrarão no debate para mostrar que há muita coisa além da vã filosofia oficial.

A fórmula artista renomada e respeitada mais mídia é igual a debate. Rico, polêmico e importante para a evolução da sociedade atual. As polêmicas causadas pela declaração de Daniela e pela eleição de pastor Feliciano para presidir uma comissão como a de Direitos Humanos revelam a luta de ideias permeando as mídias e geram uma pergunta tão instigante quanto a que a humanidade faz sobre sua origem: Que tipo de sociedade queremos? A que um grupo define o que é certo, e quem não age igual está errado? Ou a que permite as pessoas se enriquecerem com as diferenças?

Daniela é, literalmente, uma mulher poderosa. Que bom seria se outros artistas contribuíssem para pautar outros temas importantes e fazer a sociedade avançar. A mídia é poderosa. Que bom seria se pautasse temas relevantes para produzir o mesmo.

No mais é...

Assumir o amor
Do seu jeito.
Seja com quem for,
Sem preconceito,
Seja aonde for.

Assumir o amor
De maneira plena
E tranquila,
Saber que vale a pena.

Viver o amor
Com dignidade,
Se dar o direito
À felicidade.

Espalhar o amor
Profundo.
Abrir horizontes,
Fazer história,
Mudar o mundo.

Cláudio Mota – publicitário, estudante de jornalismo e responsável pelo Axé com Dendê

terça-feira, 9 de abril de 2013

Dia de luto para os jornalistas ou dias de luta?



Uma matéria publicada no dia 8 de abril pelo site Brasil 247 me chamou atenção por ter muito a ver com o meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em Jornalismo na Faculdade da Cidade, onde estou investigando o tema “Democracia e complexidade. O papel da blogosfera na democratização da informação e da grande mídia”.

Quando o site aborda a crise na grande imprensa, expressa na redução de profissionais, cadernos e editoriais, podemos avaliar que decorre, sim, da não reinvenção do setor impresso tradicional. Mas, ousaria a dizer que há outro elemento merecedor da nossa atenção. Decorre também desse (não tão) novo fenômeno chamado internet e suas ferramentas de comunicação, como as redes sociais, especialmente os blogs.

Essas ferramentas estão propiciando novos espaços de discussões e reflexões coletivas, e mais, de participação politica e social das pessoas. Nesses espaços, a interatividade e o papel de também sujeitos na produção, análise e construção da informação - com a possibilidade do debate do contraditório – pode estar migrando a audiência da imprensa tradicional para a chamada mídia alternativa. 

NOVO FENÔMENO

Podemos constatar esse novo fenômeno com a profusão intensa de novos blogs e sites que procuram tratar os mesmo temas da grande imprensa, só que um diferencial importante: a garantia da liberdade de expressão e de opinião, tirando o leitor de uma condição de receptor passivo e apenas consumidor das informações veiculadas nos grandes meios de comunicação.

Assim, mesmo os grandes veículos recebendo ainda maior parte das verbas publicitárias, públicas e privadas, é claro que está também migrando parte do financiamento desses meios para a mídia alternativa. Seguramente porque amplia exponencialmente sua audiência, garantindo maior visibilidade de marcas, produtos e empresas que anunciam.

PODER E DEMOCRACIA

A questão da Lei dos Meios não deve ser abordada apenas no contexto das dificuldades da grande mídia tradicional. A regulamentação dos meios de comunicação tem relação direta nas sociedades atuais com a própria democracia que todos desejam, com pluralidade de opiniões para refletir a diversidade de pensamento dessa sociedade.

Até pelo poder que a mídia possui hoje. Ao meu ver, deixou de ser o 4º poder para ser o primeiro, influenciando decisões dos demais poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. É só lembramos alguns episódios em que o que foi pautado e massificado pela imprensa foi determinante para tomadas de decisões no país. O mais recente foi o episódio do mensalão, que foi focado no PT, desconsiderando que esse problema começou em Minas Gerais com o governo dirigido pelo PSDB.

Como falar em democracia no Brasil se esse poder poderoso é controlado por apenas nove famílias, responsáveis por 85% da informação que circula nos meios de comunicação de massa: rádio, TV e jornal? Como falar em democracia quando canais de rádio e TV é uma concessão pública, mas ao se pensar em um sistema público de comunicação (como determina a Constituição) ou regular as atividades da mídia em geral, gera-se uma crise?

NOVO MODELO

De fato, é preciso um novo modelo para a produção e a distribuição da informação. Em se tratando do meio impresso, o nosso velho e bom jornal se depara com uma concorrência forte da mídia digital. Todas as atividades tradicionais tiveram que se adaptar a esse fenômeno. Disseram que o livro de papel desapareceria. Não desapareceu, mas percebeu-se a necessidade de se fazer os e-books (livros eletrônicos), ou colocar clássicos também em formato digital para atrair leitores. 

Será que não seria interessante a face digital de um grande jornal (alguns já estão fazendo isso) noticiar o cotidiano em notas menores e indicar grandes reportagens sobre os temas mais densos nos seus impressos, para não perder leitores e receitas? O fato é que a era digital com a internet e suas redes sociais, especialmente os blogs, colocaram em xeque o poder historicamente hegemônico das grandes mídias tradicionais. 


NOVO TEMPO

O TCC que desenvolvo me colocou à frente como tema central o conflito entre a democracia e a complexidade gerada pela blogosfera. Por trás da crise da mídia tradicional há uma clara luta de ideias na sociedade. Aliás, toda revolução tecnológica que a humanidade experimentou, gerou questionamentos sobre os novos fenômenos e a crise que sempre atinge os velhos (que já foram novos um dia). 

Um grande poeta da modernidade já disse que "via o futuro repetir o passado". "Que via um museu de grandes novidades". É, "o tempo não para". Cabe a nós, futuros e atuais jornalistas, estarmos antenados com o novo tempo para atuar sobre ele numa perspectiva de construção de uma sociedade mais democrática, desenvolvida e justa socialmente e economicamente. Não se trata de um dia de luto, mas da gestação de dias de lutas para os profissionais da comunicação.