domingo, 18 de dezembro de 2011

Respeito (nem sempre) é bom

Claro que na vida social é importante tratar as pessoas com respeito e admirar quem tem aquele algo a mais em relação à pessoas normais. Respeitar as diferenças e se enriquecer com elas. Tudo isso, de fato, contribui para uma convivência mais tranqüila em qualquer sociedade.

Aliás, historicamente a humanidade convive com os conflitos entre diferenças religiosas, culturais ou de classes sociais, entre tantas outras. A questão sempre foi qual ideia saiu vitoriosa.

Por incrível que pareça, as mudanças só aconteceram e as impossibilidades tornaram-se possíveis quando houve desrespeito ao estabelecido. Quando quem, aparentemente inferior, desrespeitou a ordem e os “superiores” e venceu a batalha.

                                              Neymar respeitou e ficou sem entender a vibração de Messi

Bem, tudo isso é para refletir sobre a derrota humilhante do Santos de Neymar para o Barcelona de Messi e Cia. (4x0). Dentro do campo, venceu o melhor time. No duelo entre os dois craques, venceu o melhor jogador.

Mas, a vitória do Barcelona foi prevista antes do início do Mundial de Clubes. Foi criado um clima e uma energia em torno da impossibilidade de qualquer time vencê-lo.

As declarações dos jogadores, do técnico Muricy, da imprensa esportiva brasileira e, especialmente de Neymar, nosso gênio diferenciado, foram de quem realmente não acreditava que poderia vencer o invencível.

Parecia a crônica de uma derrota anunciada. O Santos entrou em campo altamente defensivo. Isso contra um time qualificado e com vários jogadores excepcionais é pedir pra perder.

Todo mundo sabia que o Barcelona teria maior posse de bola. É a filosofia do time, em qualquer circunstância. Mas, daí a ver o outro time sem nenhuma atitude para se impor e agredir o time catalão. Foi demais.

Ok. É sempre bom ver uma aula de futebol como a que o Barcelona nos mostrou. Mas é péssimo ver a tietagem de Neymar e demais jogadores com o time espanhol e a aceitação passiva de todos de que seria impossível vencer. Vi um time derrotado antes de entrar em campo. Sem brio. Sem atitude de vencedor.

Na vida, dizem que é preciso respeitar para ser respeitado. Mas em algumas situações isso não cabe, como numa competição e quando envolve paixão (em todos os sentidos).

Nesse caso, de milhões de pessoas que se frustraram por não verem o imponderável acontecer para dizer: “Claro, é possível reverter situações impossíveis”.

Das aulas de superioridade do Barcelona e inferioridade do Santos, uma lição fica. Às vezes, para se ter uma vida melhor, é preciso subverter a ordem estabelecida e desrespeitar o Status Quo.

Até porque, respeito nem sempre é bom. E pode custar caro. Custou um título.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Ilhéus mais cheia de “Grassa”

Princesinha do Sul, terra do cacau e de belas praias, Ilhéus mostrou seus encantos ao mundo a partir do romance Gabriela, cravo e canela, de Jorge Amado, lançado em 1958. A personagem provocou suspiros e o imaginário masculino com sua sensualidade.

A beleza de Gabriela escondia algo além do jeito cheio de graça, tão bem revelado por Sônia Braga na TV e no cinema. Ela representou a mulher que buscava sua liberdade numa terra conservadora e mantida pelos coronéis da época de 1920.

Gabriela subverteu a falsa moral das elites e provocou reflexões sobre a opressão sofrida pelas mulheres na sociedade machista. Era uma mulher a frente do seu tempo, mesmo com sua “ingenuidade”, que chegou a Ilhéus com um grupo de retirantes fugidos da seca.


No último dia 9, Ilhéus ficou mais cheia de “grassa” ao conceder o Título de Cidadã Ilheense à uma mulher que nasceu em Vitória da Conquista, mas viveu grande parte de sua vida na terra de Gabriela: minha amiga Grassa Felizola.

O título reconhece o trabalho sindical e político de alguém que busca construir uma sociedade melhor. Que chegou com sua mãe Helena, separada mas com a cara e a coragem, uma máquina de costura e três filhas. Que, sem dinheiro, atravessava a ponte Ilhéus-Pontal andando, mas com dignidade e cabeça erguida.

Que começou a trabalhar aos 14 anos de idade para ajudar a manter a casa. Que trocou as bonecas pelos talões de venda da Casas Pernambucanas para depois fazer concurso e ingressar no Banco Real.

Sua história de luta pela vida só poderia lhe levar ao Sindicato dos Bancários, à Federação dos Bancários da Bahia e Sergipe e ao PCdoB para começar uma nova etapa: lutar para melhorar a vida de milhares de trabalhadores com ética e firmeza na defesa de nobres ideais.


Os nomes que compõem sua cidade de origem cabem sob medida para quem superou dificuldades, acumulou vitórias e conquistas. Com o diferencial de ter feito isso ajudando muita gente.

Nada como usar a licença poética para dizer que IIhéus está mais cheia de Grassa. Literalmente sem aspas.


domingo, 4 de dezembro de 2011

Doutor da cidadania, gênio da bola

                             
Neste domingo o futebol, o Brasil e a inteligência do país perderam Sócrates Brasileiro Sampaio de Sousa Vieira de Oliveira. Ou simplesmente, doutor Sócrates. O nome do seu povo na certidão de nascimento indicava algo especial na vida de alguém que marcou uma época.

No campo, o toque de calcanhar na bola foi sua marca. Fora dele, a consciência crítica sobre a realidade do seu país. Sócrates, doutor da medicina e da cidadania, foi artista no palco mágico do futebol.

Politizado, liderou a Democracia Corinthiana, termo criado pelo publicitário e corinthiano Washington Olivetto. Nos anos de 1980, em plena ditadura militar, o Corinthians decidia, pelo voto, contratações, escalação do time e regras de concentração. O doutor disse que ali, “o voto do presidente do clube tinha o mesmo peso que o voto do roupeiro”.

No programa Papo de Boleiro, da Band, Sócrates declarou que esse movimento não foi apenas para os jogadores terem voz, mas a contribuição do futebol para a volta da democracia no país. Nos estádios, as camisas do clube, silenciosamente, gritavam "diretas-já" e "eu quero votar para presidente".

Como capitão, liderou a memorável Seleção de 1982, que encantou o mundo jogando por música. Foi escolhido, em 2004, pela FIFA como um dos 125 melhores jogadores vivos da história e considerado por especialistas um dos grandes craques de todos os tempos.

Doutor da cidadania, gênio da bola. Sócrates deixa legados importantes. Reafirmou o futebol arte (com ele em campo, o jogo era apenas um detalhe). Fez muita gente se deleitar e esquecer, por um momento, os problemas da vida, com jogos memoráveis, elegância no trato da bola, toques magistrais de calcanhar e gols incríveis. Além disso, ajudou a impulsionar a roda da história política do Brasil.

Valeu, Sócrates. O futebol e o país agradecem!

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O olhar apaixonado, no instante decisivo


Ver a vida sob outra perspectiva, onde a sensibilidade de uma imagem é celebrada com a sensibilidade da poesia de Carlos Drummond de Andrade e ilustrada por uma narração marcante.

Ver que as imagens podem revelar coisas proibidas de uma ditadura. Que na censura às palavras, elas falaram pelos textos. Ver que num período “duro”, a leveza da retina capturou duas pequenas libélulas pousadas nas baionetas de dois soldados.

Ver que, além do olhar sensível e apaixonado, a ousadia foi uma marca. Que para celebrar 100 anos de Canudos, peregrinou-se o sertão baiano para fotografar idosos com mais de 100 anos de idade, garantindo histórias e imagens fascinantes.

Ver imagens “brasilis” ganhando o mundo, “revelando o olhar brasileiro e muita paixão”, dito por suas filhas. Ver “o Brasil esquecido, um pedaço da nossa história”, dito por outro gênio: Sebastião Salgado.

Ver um jeito especial de interpretar a vida, as pessoas, situações cotidianas. Ver que o maior legado de uma lente fotográfica é enriquecer a visão humana e tornar o tempo perene no papel.

Eu vi. Vi no documentário Evandro Teixeira – Instantâneos da Realidade, de Paulo Fontenelle, durante uma das aulas de fotojornalismo. Eu vi o talento e o olhar diferenciado das lentes mágicas desse baiano cosmopolita de Irajuba.

Eu vi ele ensinar a quem quer capturar a vida através de uma máquina fotográfica que a melhor foto é o que sobra. Que é preciso o olhar apaixonado, no instante decisivo.

domingo, 20 de novembro de 2011

Que relação queremos?

A vida tem nos revelado que melhorar a vida das pessoas e a sociedade está intimamente ligada com os tipos de relações que estabelecemos em nossa trajetória. Que relação queremos? foi a pergunta central de discussões interessantes no 2º Encontro Estadual de Cultura, realizado neste sábado (19), no teatro da Faculdade de Medicina da UFBA, no Pelourinho.

O que achei interessante é que o evento aconteceu no mesmo dia da visita da presidenta Dilma e do encontro de chefes de Estado. Mais de 100 pessoas, entre artistas, gestores e políticos debateram a relação entre arte, cultura e educação, e entre cultura e mercado. Interessante também foram as reflexões produzidas, que colocam a cultura como elemento essencial para uma sociedade melhor.

Além de debates, o encontro teve música, poesia e teatro

Se ver pra se reconhecer

O educador e produtor cultural Rui Cezar lembrou o saudoso Milton Santos: “Ao produzir cultura com foco no consumo, a grande indústria cultural produz uma cultura distante da realidade das pessoas”. Para Cesar é na relação arte-cultura-educação que a humanidade constrói seu conhecimento e a diversidade cultural brasileira não pode ser limitada pela valorização de uma única expressão artística. É essencial que a cultura popular esteja refletida nos materiais didáticos, para que as pessoas se identifiquem e se reconheçam.

Invadir pra preservar

Para o ator, antropólogo e professor Antônio Godí devemos pensar cultura resgatando a trajetória da humanidade. Segundo ele, “o que existe hoje tem um história anterior. Os negros tiveram que invadir os espaços simbólicos, como o Carnaval, para expressa e preservar sua cultura. Por isso, os grupos culturais precisam ser estudados”.

Conhecer pra transformar

O diretor do Instituto de Humanidade, Artes e Ciências da UFBA Sérgio Farias destacou que a construção de um processo educativo inovador depende de três fatores: 1) ocupar os espaços políticos para buscar a transformação; 2) conhecer a sociedade e como a cultura se forma para articular elementos como razão e emoção, homem e natureza, local e global, entre outros e; 3) buscar a formação do ser integral, respeitando suas especificidades.

Equilibrar conflitos

A cultura como gênese da humanidade foi resgatada por Graça Ramos, artista plástica, doutora em Arte e Educação e ex-diretora de Belas Artes da UFBA. Para ela, nenhum movimento deve ser rejeitado, sejam as inovações tecnológicas e até mesmo a globalização. O produtor cultural e membro da Secult-BA Sérgio Paiva lembrou que a cultura representa entre 4% e 7% do PIB baiano. Segundo ele, o papel do Estado é equilibrar os interesses existentes e agir onde o mercado não atua, além de garantir acesso ao crédito, infraestrutura e qualificação para quem faz cultura.

Cada um na sua, todo mundo em rede

O professor, músico e jornalista Messias Bandeira defendeu independência entre Estado, cultura e mercado. Mas, não significa cada um por si. Cada área deve cumprir seu papel e se relacionar interdependentemente, mas em rede, para potencializar uma cultura que passa, hoje, muito pelo mundo digital. O secretário de Cultura de Camaçari Vital Vasconcelos alertou para a necessidade de se desburocratizar os mecanismos do Estado para dinamizar a cultura, de democratizar a gestão para a sociedade interferir (criando conselhos de cultura), e de mais recursos nos orçamentos.

Que cultura queremos?

O secretário estadual de Cultura Albino Rubin foi enfático ao dizer que cultura não é neutra e que é importante a sociedade e um governo democrático desenvolver culturas que ajudem na construção de uma sociedade melhor e com valores positivos. Para ele “um governo como o atual não pode, por exemplo, financiar políticas culturais racistas, machistas, homofóbicas ou preconceituosas”. Na mesma linha, a deputada federal Alice Portugal (PCdoB), vice-presidente da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, vê a cultura como elemento da luta por transformações na sociedade. Segundo ela, os setores culturais precisam atuar junto aos poderes públicos para que ações inovadoras na cultura sejam efetivadas.

Esse rico encontro foi promovido pela Fundação Maurício Grabóis e o Coletivo de Cultura do PCdoB, coordenado por Javier Alfaya, ex-deputado estadual e militante da cultura.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Quem matou o cinegrafista da Band?

O primeiro suspeito é a empresa, a Band, que autoriza seus profissionais a assumir riscos que nenhum jornalista deve assumir. Jornalista não é policial.

O segundo suspeito é o diretor de jornalismo da Band, que, provavelmente, não fez seguro de vida para a família do cinegrafista.

O terceiro suspeito é, de novo, o diretor de jornalismo da Band, que permite transformar jornalistas em protagonistas: jornalista não compete com policial nem com traficante pelo protagonismo de uma reportagem.

Além do mais, para o espectador, que diferença faz se as imagens de um tiroteio com traficantes são do cinegrafista da Band ou da própria polícia ?

E mais: por que novas imagens de tiroteio com traficantes ?
Que novidade têm ? Que informação adicional dá ao espectador ?
Qual a diferença entre o tiroteio de ontem e o tiroteio de hoje?

Por que os cinegrafistas só filmam da perspectiva da polícia para os traficantes e, não, dos traficantes para a Polícia ?
Porque o jornalismo brasileiro não sobe o morro. Só entra na favela com a cobertura da Polícia. O que se passa lá dentro – para o bem ou para mal – não interessa.

O quarto suspeito é o policial que autorizou três equipes de televisão a acompanhar um tiroteio com traficantes.

O quinto suspeito é o Comandante da PM que permitiu que um policial admitisse que três equipes de televisão acompanhassem um tiroteio com traficantes.

O sexto suspeito é o Secretário de Segurança do Rio, que permite que uma ação policial se transforme numa reportagem espetaculosa.

Para o Bom (?) Dia Brasil, porém, num mau passo do Chico Pinheiro, a morte do cinegrafista da Band é uma restrição à liberdade de imprensa.

O tom da cobertura do Bom (?) Dia Brasil foi o de incriminar a política de segurança do Rio.

Como se sabe, a política de segurança do Rio é exemplar.
Combate o tráfico como nenhuma outra do Brasil – como se sabe, São Paulo consome mais carro, geladeira e viagens a Disney que o Rio, mas, cocaína, isso o Rio consome mais.
O projeto pioneiro das UPPs é um sucesso.

Mas, a política de segurança do Rio tem um grave defeito para o jornalismo dirigido pelo Ali Kamel, esse baluarte da liberdade de imprensa para divulgar atentados com bolinhas.
A segurança do Rio não é a do Governo Carlos Lacerda.

Nos bons tempos do Lacerda, o Secretário de Segurança Ardovino Barbosa mandava bater em jornalistas. Como os do jornal A Noite, na Cinelândia, em 1961, na crise da Legalidade.
 
(O ansioso blogueiro era foca da Noite e testemunhou a “liberdade de imprensa” dos lacerdistas.)

Por Paulo Henrique Amorim

sábado, 12 de novembro de 2011

Felicidade é dançar na chuva quando a chuva vem



Haverá um dia em que você
Não haverá de ser feliz.
Sem tirar o ar, sem se mexer,

Sem desejar como antes sempre quis.

Você vai rir, sem perceber,
Felicidade é só questão de ser.
Quando chover, deixar molhar

Pra receber o sol quando voltar.

Lembrará os dias que você
Deixou passar sem ver a luz.
Se chorar, chorar é vão porque os

Dias vão pra nunca mais.

Melhor viver, meu bem,
Pois há um lugar em que
O sol brilha pra você.
Chorar, sorrir também e depois dançar,

Na chuva quando a chuva vem.

Tem vez que as coisas pesam mais
Do que a gente acha que pode aguentar.
Nessa hora fique firme,

Pois tudo isso logo vai passar.

Você vai rir, sem perceber,
Felicidade é só questão de ser.
Quando chover, deixar molhar

Pra receber o sol quando voltar.

Felicidade - Marcelo Jeneci

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Firmeza de princípios e coerência, sempre

Quanto mais a humanidade se torna complexa, exige de nós atitudes cada vez mais envoltas em princípios sólidos. Mostra que é essencial firmeza de propósitos e a consciência de que, em tudo na vida, temos que procurar fazer sempre o melhor. Especialmente se é para a vida das pessoas.

Se enganou quem achava que o e ex-ministro do Esporte Orlando Silva Jr., baiano do Lobato (Subúrbio de Salvador), se esconderia após julgamento sumário e condenação da mídia. A presença dele na Conferência Estadual do PCdoB mostra uma característica especial de Orlando e do partido: a coerência e a altivez para fazer a luta de ideias.

Depois da mudança no Ministério, o partido veiculou programa nacional reafirmando que sua história de 90 anos ao lado dos trabalhadores e do povo brasileiro não será manchada por denúncias que até agora não foram provadas.

Seguramente por isso, em meio a muitos debates sobre a realidade baiana e a ação política do partido, a chegada de Orlando e o acolhimento que recebeu foram marcantes.

O governador Jaques Wagner afirmou que não se pode fazer a imolação em praça pública de um jovem que dedicou a vida inteira à luta pelos direitos dos trabalhadores e que realizou uma gestão exitosa à frente do Ministério do Esporte. Disse que os ataques a Orlando são para atacar o projeto político em curso no Brasil e um dos partidos políticos que sustentam este projeto.

Orlando agradeceu o apoio que recebeu de todos durante o período em que foi acusado. “Eu vim aqui recarregar as baterias e consegui. Eu vivi um tsunami político e não teria sobrevivido se não fosse a unidade de aço do nosso partido. Houve um tempo em que o combate aos comunistas era feito com perseguição, prisão, tortura e assassinatos. Hoje, é o linchamento midiático. Não importando se tem fundamento ou não”, afirmou.

Ao final da tarde de domingo, os delegados, eleitos após mobilização de 17 mil pessoas na Bahia, votaram em urnas eletrônicas e elegeram 63 integrantes do novo Comitê Estadual. Logo em seguida, o Comitê se reuniu e reelegeu o deputado federal Daniel Almeida para a presidência do partido.

É assim, com firmeza de princípios e coerência, que o PCdoB segue sua epopeia na luta por uma sociedade socialista, mais justa e igualitária.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Fim ou recomeço?

Muita gente ávida por livros

“Na era da comunicação eletrônica o livro não morrerá, mas sua alma se libertará do seu corpo” - Marshall McLuhan

Inicio esse post com uma das frases marcantes de um dos maiores teóricos de comunicação do século 20 para falar da minha visita à Bienal do Livro da Bahia, que começou no dia 28 de outubro e vai até 06 de novembro, no Centro de Convenções.

Fui hoje, dia 02. Um feriado. Um dia chuvoso, tudo indicado pra ficar em casa descansando. Mas Palominha (sobrinha, afilhada e filha em exercício) me convidou pra irmos à Bienal. Chegamos lá em baixo de muita chuva, mas na expectativa de ver coisas interessantes.

Não deu outra. Logicamente, num dia assim muitas pessoas estão em casa ou nos shoppings. Me surpreendi com a grande presença de adultos e, especialmente, crianças.

Comprei o livro Inovação. A arte de Steves Jobs, de Carmine Gallo, que destaca a importância das ideias inovadoras de Jobs para enfrentar crises e criar coisas novas. Palominha comprou alguns livros infantis e, pra variar, coisas de Rebeldes, Justin Bieber e Barbie.

São 385 expositores com obras de mais de 100 autores, de todos os estilos. Segundo a organização, passaram hoje pelo Centro de Convenções mais de 43 mil pessoas, recorde de público. Para aproximar ainda mais o público da literatura, a Bienal lançou a campanha "Família na Bienal do Livro", com ingressos a R$ 4,00 (meia R$ 2,00) e crianças até 12 anos tendo acesso livre.

Fim do livro de papel?

Voltando a Mcluhan, outra reflexão que a Bienal me provocou foi sobre a polêmica que envolve o fim do livro de papel, advogada por muitos estudiosos, mas constestada por muitos outros. A verdade é que sempre após a criação de novas tecnologias, outras mais antigas desaparecem.

Sobre o livro de papel, quem questiona o seu fim é o semiólogo e escritor italiano Umberto Eco, no seu trabalho Não contem com o fim do livro. Nele, Eco defende que o livro "é uma invenção consolidada e nem mesmo as inovações tecnológicas o detiveram."

Os que defendem o fim, mostram as vantagens dos eletrônicos (e-books): mais fáceis de obter na internet e de ler, já que você pode ter muitos livros em uma mídia, além de durarem mais tempo conservados. Para reforçar os argumentos, já existe o leitor de e-books: o Kindle, que permite baixar até 1.500 livros, possui tela monocromática e não emite luz.

Recomeço

Nessa questão dos chamados suportes de informação, desde o papiro até o e-book, o mais importante é que impresso e digital convivam em harmonia, de forma a se complementarem na ampliação da busca do conhecimento pela web sem que percamos o prazer de folhear um bom livro de papel.

As tecnologias valorizam a inteligência humana, ampliam a facilidade de obter conhecimentos e, acima de tudo, transformam a vida das pessoas. Mas, a presença expressiva de pessoas na Bienal, muitas sentadas no chão lendo e outras se espremendo nos corredores cheios para viajarem na magia da literatura, só nos leva a acreditar que o que parece fim, na verdade é sempre recomeço.

domingo, 30 de outubro de 2011

Encontro mundial de blogueiros e a força das novas mídias

Altamiro Borges (1º à esq.), portal Vermelho, um dos organizadores


O 1º Encontro Mundial de Blogueiros, realizado em Foz do Iguaçu, no Paraná, nos dias 27, 28 e 29 de outubro, confirmou a força crescente das chamadas novas mídias, com seus sítios, blogs e redes sociais. Com a presença de 468 ativistas digitais, jornalistas, acadêmicos e estudantes, de 23 países e 17 estados brasileiros, o evento serviu como uma rica troca de experiências e evidenciou que as novas mídias podem ser um instrumento essencial para o fortalecimento e aperfeiçoamento da democracia.

Como principais consensos do encontro – que buscou pontos de unidade, mas preservando e valorizando a diversidade –, os participantes reafirmaram como prioridades:

- A luta pela liberdade de expressão, que não se confunde com a liberdade propalada pelos monopólios midiáticos, que castram a pluralidade informativa. O direito humano à comunicação é hoje uma questão estratégica;

- A luta contra qualquer tipo de censura ou perseguição política dos poderes públicos e das corporações do setor. Neste sentido, os participantes condenam o processo de judicialização da censura e se solidarizam com os atingidos. Na atualidade, o WikiLeaks é um caso exemplar da perseguição imposta pelo governo dos EUA e pelas corporações financeiras e empresariais;

- A luta por novos marcos regulatórios da comunicação, que incentivem os meios públicos e comunitários; impulsionem a diversidade e os veículos alternativos; coíbam os monopólios, a propriedade cruzada e o uso indevido de concessões públicas; e garantam o acesso da sociedade à comunicação democrática e plural. Com estes mesmos objetivos, os Estados nacionais devem ter o papel indutor com suas políticas públicas.

- A luta pelo acesso universal à banda larga de qualidade. A internet é estratégica para o desenvolvimento econômico, para enfrentar os problemas sociais e para a democratização da informação. O Estado deve garantir a universalização deste direito. A internet não pode ficar ao sabor dos monopólios privados.

- A luta contra qualquer tentativa de cerceamento e censura na internet. Pela neutralidade na rede e pelo incentivo aos telecentros e outras mecanismos de inclusão digital. Pelo desenvolvimento independente de tecnologias de informação e incentivo ao software livre. Contra qualquer restrição no acesso à internet, como os impostos hoje pelos EUA  no seu processo de bloqueio à Cuba.

Com o objetivo de aprofundar estas reflexões, reforçar o intercâmbio de experiências e fortalecer as novas mídias sociais, os participantes também aprovaram a realização do II Encontro Mundial de Blogueiros, em novembro de 2012, na cidade de Foz do Iguaçu. Para isso, foi constituída uma comissão internacional para enraizar ainda mais este movimento, preservando sua diversidade, e para organizar o próximo encontro.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Veja se enrola mais nas mentiras

Por Esmael Moaris

 

Uma fonte deste blog na TV Globo, do Rio, informa que não está nada amistosa a relação da emissora dos Marinhos com a revista Veja. O estranhamento de Veja e Globo tem a ver com a artilharia pesada do semanário contra o ministro do Esporte, Orlando Silva, e o PCdoB.

 

A produção do Jornal Nacional pediu ontem o áudio que Veja recebeu do ex-policial João Dias Ferreira, no qual dialoga com dois assessores do Ministério do Esporte, mas a revista se recusou a fornecer a matéria-prima ao parceiro de PIG (Partido da Imprensa Golpista).

 

O blog foi atrás e descobriu que Veja não possui diálogos que comprometem o ministro ou os assessores acusados por ela. Pelo contrário. É o policial Dias quem se complica ainda mais. O “herói” da revista já esteve preso por desvio de recursos da pasta e é suspeito de assassinato.

 

Na fita que está em poder de Veja, o acusador ameaça com um revólver os assessores do ministério. Por isso a revista não publicou diálogos na reporcagem desta semana.

 

Como norma padrão, o Jornal Nacional sempre dava destaque às estripulias de Veja com a condição de exclusividade nas “provas” materiais adquiridas. Pela primeira vez a revista não cumpriu o acordo e isso deixou a Globo com muito mau humor.

 

A direção TV Globo, segundo a mesma fonte, teme que a emissora tenha sido arrastada numa guerra que poderá custar-lhe o pouco de credibilidade (e os pontinhos no Ibope) que tem.

 

Se a Globo quer saber do áudio secretos de Veja, imagine os comunistas…

 

O ministro Orlando Silva está rindo à toa da trapalhada. Ele fez a sua parte ao pedir para ser investigado, abrir sigilos bancários e telefônicos, enfim, depor no Congresso Nacional.

 

O diabo é que a revista Veja se recusa a fazer a parte dela que é bem mais simples: mostrar o áudio coletado clandestinamente pelo policial João Dias.

 

Fonte: http://www.esmaelmorais.com.br/

 

domingo, 23 de outubro de 2011

Você precisa “se tocar”. Avon, também!

Naspec, firme contra o câncer de mama

Neste domingo (23), no Dique do Tororó, eu e os colegas de faculdade, Danúbio e Cris, participamos do Outubro Rosa, organizado pelo Naspec - Núcleo Assistencial para Pessoas com Câncer. Representamos a turma de Jornalismo do 4º semestre noturno da Faculdade da Cidade, que criou o projeto Doando Amor ao Naspec, fruto de Trabalho Interdisciplinar.

Esse ano, o evento teve a Caminhada para a Vitória, foi animado pela banda Solta o Som e contou com várias ações sociais. Uma coisa que me chamou a atenção foi o patrocínio do Instituto Avon. Assegurou praticamente toda estrutura do Outubro Rosa. Parecia que o ato foi do instituto e o Naspec, apenas um colaborador. Não vi a marca do Núcelo em nada do que foi mostrado e distribuído.

Entretanto, fiquei contente em ver o pessoal do Naspec com a marca produzida pelo Sindicato dos Comerciários de Salvador: Você precisa “se tocar”. Aliás, todo material produzido nessa parceria tem sempre a valorização do sindicato e, mais ainda, do Naspec.

Essa participação da Avon me faz refletir sobre como as empresas no capitalismo se apropriam de manifestações culturais e de campanhas sociais como essa para promoverem sua imagem.

Ok. Legal a Avon fazer parceria com a Femama (Federação das Associações Filantrópicas pela Saúde da Mama) para desenvolver a campanha contra o câncer de mama. Mas, não dá pra conduzir-se no evento como se fosse o seu realizador e colocar entidades da importância do Naspec como coadjuvantes.

O Outubro Rosa é um movimento mundial, nascido em 1997, na Califórnia (EUA). Tem por objetivo dar visibilidade às iniciativas de enfrentamento do câncer de mama e promover a consciência sobre a importância do diagnóstico precoce.

O Naspec merece respeito. Afinal, acolhe e dá assistências a pessoas do interior da Bahia em 75 leitos hospitalares e uma equipe multidisciplinar formada por 61 profissionais voluntários, entre enfermeiras, fisioterapeutas, nutricionistas, farmacêuticas, terapeutas ocupacionais e psicólogas.

Toda mulher precisa “se tocar”. Ter consciência e fazer o exame de toque para prevenir o câncer de mama. Empresa que querem ajudar nessa luta também precisam se tocar. O Naspec precisa de ajuda, sim. Mas ninguém pode querer ser maior do que ele.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O mundo menos inteligente e menos criativo

Desde o seu início, a humanidade se intriga com a possibilidade de vida inteligente no espaço. Em meio a esse dilema, uma coisa é certa: cada vez que perdemos gênios aqui na terra, o mundo fica menos inteligente e menos criativo.

Após sete anos lutando contra um câncer no pâncreas, Steves Jobs, criador da maior e mais valiosa empresa do mundo, a Apple, não conseguiu vencer a doença. Logo ele, de inteligência rara e criatividade fora do normal, que criou o primeiro computador pessoal do mundo e tecnologias que transformaram nossas vidas.

Para muitos, Jobs era um visionário. Alguém que via, percebia e sentia antes dos outros. Que, ao criar o iPod, o iPhone e iPad, aproximou pessoas com um simples clicar de botões. Que colocou a tecnologia na nossa vida cotidiana.

Inquieto e inovador, ao descobrir o câncer, afirmou que a morte era a maior invenção da vida. A ferramenta mais importante para lhe ajudar a tomar grandes decisões na vida (melhor para humanidade).

O gênio visionário dizia que só se conseguia ligar pontos olhando para trás, mas era preciso confiar que os pontos irão, de alguma forma, se conectar no futuro. Para Jobs, era preciso acreditar em algo, o que nunca o decepcionou e fez a diferença durante a vida.

Produzir tecnologia para ele não era algo só racional. Era essencial ouvir a voz interior e ter coragem de seguir o coração e a intuição. Os equipamentos sofisticados e diversificados foram idealizados por alguém que acreditava no foco e na simplicidade. Segundo ele, “o simples pode ser mais difícil que o complexo. Mas vale a pena porque, quando você chega lá, pode mover montanhas".

A grande questão sobre vida inteligente para além da terra é se ela vem de lá prá, ou se vai de cá pra lá. Steve Jobs e tantos outros seres que transformaram o mundo ou a maneira como o vemos confirmam que o mais importante é colocar nossa vida e nossa inteligência à disposição da humanidade.

Tudo para que ela continue sua saga, sua epopéia grandiosa em busca da transformação social, política, cultural e econômica. Em busca do novo para por fim a mesmice.

Thank you very much, Mr. Jobs!

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Mulher, cultura e liberdade


Já havia postado duas opiniões sobre o tema. Como está para ser votado a qualquer momento na Assembleia Legislativa, gostaria de colocar mais um pouquinho de dendê no assunto. O projeto da deputada estadual Luiza Maia (PT) já conseguiu algo importante: pautar a discussão sobre a discriminação da mulher na cultura popular.

Muitas polêmicas entorno do objetivo central do PL - evitar que o Estado financie músicas que agridem a dignidade feminina – ajudam a fortalecer a democracia com opiniões distintas. Grande parte das ponderações contra o projeto fala da censura que ele imporia à liberdade de expressão.

Liberdade absoluta?

É justamente ai que quero meter bedelho e colher. Em nossa sociedade, o que comanda o conjunto de liberdades tem sido a lógica do livre mercado, cujos defensores querem que o Estado não regule nada. As relações econômicas entre empresas é que dão o tom à economia.

O economista Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel, criticou o FMI por produzir crenças de que o livre mercado amplia a liberdade individual, tende a um equilíbrio natural graças à "mão invisível" e que os interesses da sociedade são atingidos quando as pessoas podem perseguir seus próprios interesses.

Mitos que cairam por terra com a crise dos países ricos e pais do livre mercado, com suas desigualdades sociais. O Estado agiu e tomou medidas para proteger a sociedade. Inclusive, empresas e bancos também foram beneficiados com essa ajuda. É, a liberdade não é absoluta.

Liberdade de expressão

Outro aspecto que podemos tratar é sobre a liberdade de expressão, assegurada na Constituição Federal. Ninguém duvida que a manifestação livre de opiniões e ideias é essencial para o fortalecimento da democracia em qualquer sociedade.

Na Grécia Antiga, Aristóteles afirmava que todo trabalho devia ser executado pelos escravos para que os cidadãos pudessem se reunir na Ágora (praça pública) e deliberar sobre os assuntos. O direito à voz era de todos, que expressavam seus pensamentos. Todos, “pero no mucho”. Mulheres, escravos, prisioneiros e estrangeiros não participavam. A liberdade de alguns custava a escravidão e a exclusão da maioria.

A liberdade de expressão está relacionada especialmente com a liberdade de imprensa, onde o o Estado garante a cidadãos e organizações publicarem qualquer pensamento ou ideia. É realmente assim? Se fosse, por quê há regulações que colocam determinados programas ou filmes a partir de determinados horários? Por que são proibidos filmes pornôs nas televisões abertas? Os criadores desse gênero reivindicam que suas obras também são cultura e tem público. É, a liberdade não é absoluta.

Cultura e sociedade

Outro elemento nessa discussão é a relação cultura-sociedade. Para o filósofo alemão Karl Marx, o ser humano não constrói sua história livremente, pois situações anteriores condicionam o modo como acontece essa construção. Mas, ele tem capacidade de reagir e transformá-la.

Pesquisando o tema, encontrei o artigo “Sociedades complexas: indivíduo, cultura e individualismo”, de Ricardo Bruno Cunha Campos, publicado na Revista Eletrônica de Ciências Sociais.

Segundo ele, as sociedades ocidentais, estruturadas sob o capitalismo, se desenvolvem num contexto multicultural, e que a lógica do capital coloca as manifestações culturais em uma rede de produção de massa voltada para o consumo (ao bel prazer do livre mercado).

Liberdade e responsabilidade  

Na lógica do livre mercado e da liberdade de expressão, compositores e cantores dessas músicas continuam livres para cantar nas rádios e em festas privadas, a grande maioria. Por sua vez, o Estado pode - deve! - usar a liberdade de investir o dinheiro público para promover manifestações culturais que valorizem a mulher.

Se é verdade que a cultura é reflexo da sociedade que a produz, também é verdade que ela ajuda a construir tipos de sociedades. Será que as mulheres que disseram não se importar com as letras, mas apenas com o som das músicas, gostariam de ouvir, num local público, um homem "sedutor" dizer “vem cá, me dá a patinha...me dá sua cachorrinha”?

O projeto chamado de “antibaixaria”, longe de querer censurar liberdades, propõe a construção de uma sociedade melhor e culturalmente mais rica. E isso é responsabilidade de todos, especialmente do Estado.