Guerreiro Glauber
Eu só conhecia o Picolino de
vista, ao passar pela orla de Salvador, e pela história de resistência para
produzir arte e cidadania. Ao homenagear o talento e a história do nosso
cineasta baiano Glauber Rocha, “Guerreiro” nos brindou com a convergência das
artes, em pleno momento de convergência das mídias.
Em muitos momentos, não sabia se
prestava atenção ao vídeo, que passava cenas de filmes de Glauber; se ao palco
disfarçado de picadeiro, onde performances teatrais e circenses de malabares
reforçavam as cenas no vídeo; se à música regional tocada pela banda que
acompanha o espetáculo ou a voz maravilhosa da cantora, que me transportou por
um momento para uma ópera; se às acrobacias realizadas nas fitas, nos trapézios
ou no palco.
O mais incrível foi ver adultos e
crianças embevecidos com efeitos de imagem, luz e som, como uma reverência a
estética que Glauber Rocha imprimia em suas obras. Toda essa magia foi pensada
e criada pelo ‘guerreiro’ Anselmo Serrat.
Bando Olodum se orienta
Quem já conhecia os trabalhos do
Bando de Teatro Olodum, ou ficou em perplexidade, sem saber o que era aquilo,
ou em arrebatamento pela admiração em ver ‘Dô’ e o quanto o Bando enriqueceu a
sua linguagem com o toque oriental do coreógrafo japonês Tadashi Endo. Na
língua nipon, ‘Dô’ significa“movimento” e é baseada no Butô, um estilo de
dança-teatro japonês.
Choque cultural? Que nada. A
mistura da tranquilidade oriental com a força explosiva da baianidade do Bando
só poderia resultar em algo esplendoroso. E, mais uma vez, mesclaram-se artes
como o vídeo, dança e teatro para nosso deleite.
A beleza estética de ‘Dô’ moldura
e dá forma ao tema tratado: a transformação da história individual e da
identidade pessoal, em movimento e sinergia permanentes.
Seguramente,
com ‘Dô’, o Bando de Teatro Olodum experimentou a reinvenção da sua própria
linguagem, sem descaracterizá-la, mas incorporando a ela novos elementos.
Ganhou o Bando. Ganharemos nós, com espetáculos ainda mais encantadores.
Segundo
Tadashi Endo, Dô no ideograma japonês tem dois lados que unem peso, poder e
energia, simbolizando energia pesada. O incrível foi ver toda dramaticidade
expressa pelos personagens sendo suavizada pela leveza dos movimentos.
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