domingo, 20 de novembro de 2011

Que relação queremos?

A vida tem nos revelado que melhorar a vida das pessoas e a sociedade está intimamente ligada com os tipos de relações que estabelecemos em nossa trajetória. Que relação queremos? foi a pergunta central de discussões interessantes no 2º Encontro Estadual de Cultura, realizado neste sábado (19), no teatro da Faculdade de Medicina da UFBA, no Pelourinho.

O que achei interessante é que o evento aconteceu no mesmo dia da visita da presidenta Dilma e do encontro de chefes de Estado. Mais de 100 pessoas, entre artistas, gestores e políticos debateram a relação entre arte, cultura e educação, e entre cultura e mercado. Interessante também foram as reflexões produzidas, que colocam a cultura como elemento essencial para uma sociedade melhor.

Além de debates, o encontro teve música, poesia e teatro

Se ver pra se reconhecer

O educador e produtor cultural Rui Cezar lembrou o saudoso Milton Santos: “Ao produzir cultura com foco no consumo, a grande indústria cultural produz uma cultura distante da realidade das pessoas”. Para Cesar é na relação arte-cultura-educação que a humanidade constrói seu conhecimento e a diversidade cultural brasileira não pode ser limitada pela valorização de uma única expressão artística. É essencial que a cultura popular esteja refletida nos materiais didáticos, para que as pessoas se identifiquem e se reconheçam.

Invadir pra preservar

Para o ator, antropólogo e professor Antônio Godí devemos pensar cultura resgatando a trajetória da humanidade. Segundo ele, “o que existe hoje tem um história anterior. Os negros tiveram que invadir os espaços simbólicos, como o Carnaval, para expressa e preservar sua cultura. Por isso, os grupos culturais precisam ser estudados”.

Conhecer pra transformar

O diretor do Instituto de Humanidade, Artes e Ciências da UFBA Sérgio Farias destacou que a construção de um processo educativo inovador depende de três fatores: 1) ocupar os espaços políticos para buscar a transformação; 2) conhecer a sociedade e como a cultura se forma para articular elementos como razão e emoção, homem e natureza, local e global, entre outros e; 3) buscar a formação do ser integral, respeitando suas especificidades.

Equilibrar conflitos

A cultura como gênese da humanidade foi resgatada por Graça Ramos, artista plástica, doutora em Arte e Educação e ex-diretora de Belas Artes da UFBA. Para ela, nenhum movimento deve ser rejeitado, sejam as inovações tecnológicas e até mesmo a globalização. O produtor cultural e membro da Secult-BA Sérgio Paiva lembrou que a cultura representa entre 4% e 7% do PIB baiano. Segundo ele, o papel do Estado é equilibrar os interesses existentes e agir onde o mercado não atua, além de garantir acesso ao crédito, infraestrutura e qualificação para quem faz cultura.

Cada um na sua, todo mundo em rede

O professor, músico e jornalista Messias Bandeira defendeu independência entre Estado, cultura e mercado. Mas, não significa cada um por si. Cada área deve cumprir seu papel e se relacionar interdependentemente, mas em rede, para potencializar uma cultura que passa, hoje, muito pelo mundo digital. O secretário de Cultura de Camaçari Vital Vasconcelos alertou para a necessidade de se desburocratizar os mecanismos do Estado para dinamizar a cultura, de democratizar a gestão para a sociedade interferir (criando conselhos de cultura), e de mais recursos nos orçamentos.

Que cultura queremos?

O secretário estadual de Cultura Albino Rubin foi enfático ao dizer que cultura não é neutra e que é importante a sociedade e um governo democrático desenvolver culturas que ajudem na construção de uma sociedade melhor e com valores positivos. Para ele “um governo como o atual não pode, por exemplo, financiar políticas culturais racistas, machistas, homofóbicas ou preconceituosas”. Na mesma linha, a deputada federal Alice Portugal (PCdoB), vice-presidente da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, vê a cultura como elemento da luta por transformações na sociedade. Segundo ela, os setores culturais precisam atuar junto aos poderes públicos para que ações inovadoras na cultura sejam efetivadas.

Esse rico encontro foi promovido pela Fundação Maurício Grabóis e o Coletivo de Cultura do PCdoB, coordenado por Javier Alfaya, ex-deputado estadual e militante da cultura.

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