domingo, 14 de agosto de 2011

Pô, Bibi. Inverteram-se os papeis. Os valores, não


Ele, um malhadão, bonito, burro, ingênuo e alpinista social. Ela, uma mulher independente e bem sucedida, que esnoba os homens. É o casal mais comentado da televisão: Douglas e Bibi, vividos hilariamente por Ricardo Tozzi e Maria Clara Gueiros em Insensato Coração. Quando entram em cena, proporcionam momentos engraçadíssimos.

Provavelmente o sucesso se deve por mostrar uma inversão de valores entre homens e mulheres. Ele bateu pé firme e intimou: "Pô, Bibi. Me tocar agora, só casando". Ela retrucou: "Qual é, Douglas? Tá me pressionando por quê?" Falas que na vida real estariam invertidas.

Sem dúvida, a novela é o maior fenômeno cultural da sociedade latinoamericana. Emociona, problematiza situações cotidianas e produz comportamentos, hábitos e costumes. É comum bordões, trejeitos e roupas de personagens ganharem corpo na vida real. Ficção e realidade se misturam, produzindo (ou não) mudanças sociais.

Numa sociedade avançada culturalmente, falas e atitudes de Douglas e Bibi não causariam estranheza. Um homem pedindo pra casar? Uma mulher resistindo? Os dois poderiam viver uma relação nova, construída por eles mesmos, com os próprios parâmetros de felicidade, sem a imposição de valores seculares.

Mas, tudo indica que o final aponta, mais uma vez, para que a mulher até então pegadora aceite o xeque-mate imposto pelo homem até então ingênuo. É, a trama inverteu os papeis dos personagens, mas não alterou os valores tradicionais da nossa sociedade, que condicionam homens e mulheres.

Novo capítulo

Se a televisão e as telenovelas têm um poder extraordinário sobre as pessoas ao trabalharem dramas humanos, fatos políticos, aspectos culturais e sociais, é preciso um novo capítulo: jogar papel mais crítico na transformação desses elementos.

Afinal, a novela reflete nosso imaginário coletivo e influencia na construção de realidades e identidades sociais e culturais. Ah! Não dá pra esquecer que quem faz TV e novelas tem sua visão de mundo e ganha muito bem para emocionar ou problematizar o cotidiano sob determinada ideologia, geralmente conservadora.

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